Notícias da fec


Dia Internacional das Florestas
Por Lucas Eduardo Araújo Silva
Em 21 de março de 2023

 Dia Internacional das Florestas
A diversidade biológica e a segurança climática nas florestas do Cristalino

Em 2023, o Dia Internacional das Florestas, comemorado no dia 21 de março, o Brasil busca soluções para garantir a conservação da Amazônia, essencial para a segurança do clima global. Suas florestas armazenam 25% de toda a biomassa florestal da Terra e possuem o maior estoque de carbono de todas as emissões histórias de fonte fóssil dos Estados Unidos. Uma das estratégias de conservação das florestas mais significativas no Brasil é a criação de Reservas Particulares de Patrimônio Natural – RPPNs, incorporadas ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Na Amazônia mato-grossense, as quatro RPPNs Cristalino, situadas no município de Alta Floresta, surgiram a partir da década de 90 e juntas totalizam mais de 7 mil hectares em uma região de prioridade extremamente alta para a conservação da Amazônia mato-grossense.

As RPPNs Cristalino são destinadas para fins de pesquisa, educação ambiental e visitação controlada. São regidas pela Fundação Ecológica Cristalino (FEC), situada no município de Alta Floresta. No entorno das reservas, outras terras estão sendo protegidas pelos proprietários, são elas: Ilha Ariosto com 536 hectares de mata nativa no Rio Teles Pires e a Fazenda Cristalino com 3.701 hectares, totalizando assim, cerca de 11.400 hectares de florestas protegidas.

Nos últimos 20 anos, A FEC realizou parcerias com inúmeras instituições de pesquisa e universidades brasileiras que realizaram mais de 40 estudos científicos sobre a fauna, flora e clima nas reservas naturais “É uma área pequena se compararmos com as proporções continentais deste rico Bioma. Porém, estão localizadas em uma região que mais sofre com o desmatamento decorrente do avanço da fronteira agrícola. A FEC desenvolve, apoia e incentiva a realização de pesquisas científicas nas RPPNs Cristalino, visando aumentar o conhecimento desta região, visando a conservação e preservação da sua biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos que a floresta fornece”, ressalta Lucas Eduardo Araújo Silva, biólogo, Doutor em Zoologia e coordenador da FEC.

Vista do alto da torre das RPPNs Cristalino. Foto: Samuel Melin

A bióloga e Doutora em Aquicultura, professora de Ecologia da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Solange Arrolho é uma das pesquisadoras que atua nas RPPNs Cristalino em parceria com a Fundação Ecológica Cristalino. Ela explica que a região do Parque Estadual Cristalino protege 1% das espécies ameaçadas de extinção no Brasil e 0,15% das espécies ameaçadas globalmente (GBIF.org, 2023). “Mas o que isso significa? Quando se fala em Amazônia, a primeira imagem que vem na memória se refere à presença de grandes florestas e grandes rios, povoados por uma enorme diversidade de espécies, muitas das quais ainda desconhecidas pela ciência. Temos que pensar que essa região tem importância econômica, ecológica e social de grande relevância para a nossa e futuras gerações. Portanto, conservá-la é demonstrar que usamos nossa preocupação com o outro”.

A região das RPPNs e do Parque Estadual Cristalino é um reduto de espécies ameaçadas, tais como a castanheira (Bertholletia excelsa), a onça-pintada (Panthera onca), o tracajá (Podocnemis unifilis) e o jacamim-de-costas-marrons (Psophia dextralis), além de ser lar para mais de sete espécies de primatas, incluindo o endêmico e ameaçado macaco-de-cara-branca (Ateles marginatus), espécie -símbolo do Parque Estadual Cristalino. Outros habitantes da floresta incluem o tatu-canastra (Priodontes maximus), a ariranha (Pteronura brasiliensis), diferentes espécies de sapos e serpentes e mais de mil espécies de borboletas. Quase um terço de todas as aves brasileiras, de um total de 1971 espécies – incluindo o gavião-real (Harpia harpyja), uirapurus, araras, papagaios e tucanos – podem ser observados dentro e nos arredores da reserva.

macaco-de-cara-branca (Ateles marginatus). Foto: Marcos Amend

As RPPNs possuem rígidas normas a respeito do uso da área e zoneamento e proíbe atividades  como mineração, desmatamento e caça e pesca predatória. É permitida a prática de turismo responsável com facilidades turísticas de mínimo impacto, como torres de observação, mirantes e trilhas.

As RPPNs Cristalino

Em 1990, o Floresta Amazônica Hotel (FAH) adquiriu uma área de 700 hectares na margem direita do Rio Cristalino, criando ali alguns anos mais tarde a primeira unidade de conservação privada da Amazônia mato-grossense. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cristalino tem 670 hectares, sendo que os demais 30 hectares foram destinados para o empreendimento de ecoturismo Cristalino Lodge que apoia a conservação da área.

Com o intuito de criar um modelo de economia sustentável embasado no ecoturismo e geração de empregos e renda para a comunidade de Alta Floresta e região, foi criado o Hotel de selva Cristalino Lodge que, em parceria com a FEC desenvolveu um modelo de cooperação no qual o ecoturismo gera recursos para a manutenção das RPPNs e para a elaboração de pesquisas científicas e projetos de educação ambiental.

Texto: Josana Salles Abucarma