Parque Estadual Cristalino II completa 22 anos e garante a conservação de espécies raras e produção de chuvas

No dia 30 de maio de 2001 foi criado pelo Governo de Mato Grosso o Parque Estadual Cristalino II com 118 mil hectares, localizado na Amazônia mato-grossense, entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo. Naquele ano a unidade de conservação foi anexada ao Parque Estadual Cristalino |, criado em 2000, com 66.900 hectares. Ao todo são 184.900 hectares de floresta amazônica primária que promovem a conservação da fauna e flora do sul da Amazonia brasileira.

Na região do Parque Estadual Cristalino foram identificadas mais de  600 espécies de aves, sendo 25 estão ameaçadas de extinção, 82 espécies de répteis, 60 de anfíbios, 98 de mamíferos, 2 mil de borboletas, 39 de peixes e mais de 1.400 espécies de plantas já catalogadas. Ao todo são 41 espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção e 38 espécies endêmicas.

As unidades de conservação são instituídas pelo poder público e tem papel fundamental na conservação da biodiversidade. São espaços territoriais e marinhos detentores de atributos naturais e/ou culturais, além de especial relevância para a conservação e uso sustentável de seus recursos, desempenhando um papel altamente significativo para a manutenção da diversidade biológica.

As UCs são legalmente instituídas pelo poder público nas suas três esferas (municipal, estadual e federal).

Essas áreas são reguladas pela lei nº 9985/2000, que institui o Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), e estão divididas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável.

Além de proteger espécies raríssimas da fauna amazônica, as florestas do Parque Estadual do Cristalino contribuem para o combate ao aquecimento global e a produção de chuvas que são distribuídas no estado de Mato Grosso e sul do Brasil.

 

Nova espécie de louva-a-deus é descoberta na Amazônia de Mato Grosso

Encontrada em expedição do Projeto Mantis na RPPN Cristalino, espécie faz homenagem à RPPN Cristalino

Leo Lanna e o designer Lvcas Fiat, do Projeto Mantis

Em 2021, em meio ao segundo ano da pandemia, o pesquisador Leo Lanna e o designer Lvcas Fiat, do Projeto Mantis, realizaram a maior expedição de suas vidas, como parte do Mestrado de Leo pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade Federal do Pará. “Austral: Mantis da Amazônia” foi uma imersão de dois meses na RPPN Cristalino, MT, na porção mais sul do bioma, onde a floresta encontra o Cerrado. Com apoio da Fundação Ecológica Cristalino e do Greenpeace Brasil, o objetivo era documentar a diversidade de louva-a-deus da área, até então completamente desconhecida. O primeiro resultado saiu agora: uma nova espécie, Microphotina cristalino, publicada na European Journal of Taxonomy, e batizada em homenagem à reserva e ao principal rio da região. O nome também remete à característica translúcida do corpo do inseto. Enquanto um projeto de lei pretende retirar o Mato Grosso da Amazônia Legal, a nova espécie de louvaa-deus soma-se às diversas descobertas feitas na região, como o sagui-de-schneider, nos lembrando o quanto ainda temos a conhecer e por que a floresta deve seguir protegida.

“Nós realizamos expedições em diversos locais do Brasil, e a Amazônia do Mato Grosso sem dúvidas foi a mais rica em diversidade que já vimos”, conta Leo Lanna. “A quantidade de animais era imensa, não era incomum ver antas, queixadas, mamíferos grandes que são cada vez mais raros ou escassos. E isso se refletiu nos louva-a-deus: encontramos mais de 30 espécies, em quantidades que nunca imaginamos ver.”

Quase diariamente a dupla saia à noite, com lanternas e câmeras, para buscar os insetos. Perto do alojamento, deixavam duas armadilhas de luz não-letais, que são basicamente um pano branco com uma luz forte que traz insetos voadores noturnos. Na floresta, eram horas de busca, olhando no chão e folhiço, passando por troncos e folhas, até onde os olhos alcançavam. O Brasil tem a maior diversidade de louva-a-deus do mundo, mais de 250 espécies, que habitam todos os biomas e todas as partes dos ecossistemas. Carismáticos e chamativos, esses insetos carnívoros são inofensivos para nós e apresentam formas e cores bastante peculiares, sempre camuflados. Podem se parecer com galhos, folhas verdes ou secas, líquens, musgos e até flores. Encontrá-los à noite é mais fácil, quando a camuflagem não é tão efetiva. Na RPPN Cristalino, o Projeto Mantis buscava por novas e raras espécies que pudessem nos ajudar a compreender melhor esses insetos, cuja diversidade no país pode alcançar até 700 espécies no futuro, de acordo com cientistas. E foi a expedição de maior sucesso da organização. Além do louva-a-deus cristalino, já identificaram ao menos duas outras novas espécies de louva-a-deus, que estão em processo de descrição.

A descrição foi feita com base em machos adultos, encontrados somente na armadilha de luz não letal

A descoberta do louva-a-deus cristalino trouxe à tona diversas questões. A descrição foi feita com base em machos adultos, encontrados somente na armadilha de luz não letal. Ao revisarem a literatura, os autores perceberam que o mesmo aconteceu para as outras quatro espécies do gênero Microphotina. Em apenas uma delas a fêmea é conhecida, a partir de um único exemplar. Isso significa que, fora os machos voadores atraídos às luzes, não se conhecem as fêmeas e jovens, que não voam, nem os ovos. No artigo, os autores levantam a hipótese de que seja um inseto de dossel, vivendo na copa das árvores e raramente descendo às partes baixas da floresta.

“Mesmo com dois meses de buscas na floresta, o louva-a-deus cristalino só apareceu na armadilha de luz. A copa das árvores é um mundo à parte, extremamente biodiverso e desconhecido. Inclusive, em nosso TED Talk no Canadá ano passado, quando falamos a primeira vez sobre a espécie nova, mencionamos como ainda não existem tecnologias eficientes para pesquisar grande parte da fauna de dossel, apesar dos avanços que nos permitem explorar do fundo do oceano até Marte.”

No artigo, que conta também com os especialistas em louva-a-deus João Herculano e Julio Rivera, e o herpetólogo Pedro Peloso, orientador de Leo no Mestrado, os pesquisadores alertam para a conservação da espécie. Por viver nas partes altas, o louva-a-deus cristalino provavelmente depende de florestas preservadas. Infelizmente, a região faz parte do infame Arco do Desmatamento, onde a devastação mais avança. O ecótono Cerrado-Amazônia, essa região de contato e troca entre os dois biomas, concentra uma biodiversidade riquíssima e única, porém já perdeu 40% de sua cobertura original. Caso o Estado seja retirado da Amazônia Legal, a previsão é que milhões de hectares sejam desmatados, agravando o cenário. Mesmo as áreas protegidas se encontram sob forte pressão. Só em 2022, milhares de hectares dos Parques Estaduais Cristalino I e II sucumbiram a queimadas ilegais. Ainda assim, é graças às RPPNs, Unidades de Conservação Federais e Estaduais, e Terras Indígenas, que ainda restam trechos importantes da Amazônia na região, um abrigo fundamental para sua rica biodiversidade. Por isso o nome foi uma homenagem à reserva que protege a espécie nova.

O artigo científico aproveita a oportunidade para sintetizar o conhecimento da linhagem evolutiva desse grupo de louva-a-deus, os Microphotina, incluindo a relação entre suas espécies, os primeiros detalhes da história natural e comportamento, e sua distribuição, hoje restrita à Amazônia. E se antes a linhagem só era conhecida para regiões mais ao Norte do bioma, de clima mais úmido ao longo de todo o ano, a descoberta de uma espécie na RPPN Cristalino, no sul do bioma, onde existe uma estação seca bem definida, levantou a hipótese de que esse tipo de louva-a-deus também pudesse ser encontrado na Mata Atlântica ou até mesmo em zonas naturais de florestas do Cerrado e da Caatinga. E essa hipótese se confirmou em Dezembro do ano passado, quando a equipe visitou a Universidade Federal de Viçosa e encontrou um único exemplar de um louva-a-deus semelhante aos Microphotina na coleção do museu entomológico, oriundo da Mata Atlântica mineira. Com o achado, estão iniciando uma parceria com pesquisadores da UFV para desvendar a fauna de louva-a-deus local.

RPPN Cristalino, na Amazônia de Mato Grosso e ao lado do Parque Estadual Cristalino

Ainda há muito a se conhecer sobre a biodiversidade do Brasil, nossa maior e verdadeira riqueza. O Projeto Mantis trabalha desde 2015 com pesquisa, conservação e documentação de vida selvagem, combinando ciência e arte no estudo dos louva-a-deus. Por meio de palestras, exposições, eventos e redes sociais, a equipe divulga suas descobertas e sua experiência na busca por esses insetos fantásticos. Fala não somente de insetos, mas das belezas de nossa fauna e flora, mostrando em detalhes os encontros fantásticos nas noites das florestas tropicais. Esse ano irão ao Global Exploration Summit, em Portugal, falar sobre suas mais recentes descobertas.  E voltarão à Amazônia, dessa vez em Roraima, para uma expedição com financiamento da National Geographic Society, para produzir um trabalho em torno do desconhecido e do imaginário no universo dos louva-a-deus.

FEC investiga espécies de mamíferos, aves e borboletas

No Dia Mundial da Biodiversidade, a Fundação Ecológica Cristalino – FEC comemora a realização de mais uma campanha de campo do Programa de Monitoramento da Biodiversidade das RPPNs Cristalino, no fim do período chuvoso. O programa teve iniciou em 2019 e retomou as atividades em outubro de 2022 após a pandemia do coronavírus.

Foram percorridos cerca de 15 quilômetros por dia. O acesso a trilha de monitoramento passa pela floresta ripária (mata ciliar) e 420 metros de igapó inundado com as águas pretas do rio Cristalino.

Neste mês de maio, os pesquisadores percorreram por volta de 100 quilômetros em 10 dias de trabalho coletando dados sobre mamíferos, aves e borboletas frugívoras. O coordenador do monitoramento, Lucas Eduardo Araújo Silva, biólogo, Doutor em Zoologia (evolução e biodiversidade) lembra que nas RPPNs Cristalino existem 8 ambientes diferentes com flora e fauna associados, o que geram uma alta biodiversidade nesta região tão importante para a conservação da Amazônia.

“Estamos em campo duas vezes ao ano realizando as atividades de monitoramento da biodiversidade das RPPNs Cristalino. Este trabalho veio para suprir a necessidade de amostrar, e estudar ao longo do tempo a biodiversidade destas reservas, visando investigar e propor ações que venham a auxiliar na conservação dos grupos estudados”, explica o coordenador da FEC.

A região das RPPNs e do Parque Estadual Cristalino é um reduto de espécies ameaçadas, tais como a castanheira (Bertholletia excelsa), a onça-pintada (Panthera onca), o tracajá (Podocnemis unifilis) e o jacamim-de-costas-marrons (Psophia dextralis), além de ser lar para mais de sete espécies de primatas, incluindo o endêmico e ameaçado macaco-de-cara-branca (Ateles marginatus), espécie símbolo do Parque Estadual Cristalino.

Outros habitantes da floresta incluem o tatu-canastra (Priodontes maximus), a ariranha (Pteronura brasiliensis), diferentes espécies de sapos e serpentes e mais de mil espécies de borboletas. Quase um terço de todas as aves brasileiras, de um total de 1971 espécies – incluindo o gavião-real (Harpia harpyja), uirapurus, araras, papagaios e tucanos – podem ser observados dentro e nos arredores da reserva.

As RPPNs Cristalino, são áreas protegidas que ajudam na conservação de uma rica biodiversidade na porção meridional da Amazônia, localizadas na divisa entre Mato Grosso e Pará e vizinha ao Parque Estadual do Cristalino.

 

Pesquisadores preparam equipamentos para as atividades de campo

 

 

 

FEC: 24 anos em prol da ciência e da educação Ambiental na Amazônia de Mato Grosso

A Fundação Ecológica Cristalino – FEC comemora neste dia 17 de maio 24 anos de muitas realizações, lutas, pesquisas e ações de conscientização pela conservação da Amazônia. Situada na região de Alta Floresta, norte de Mato Grosso, a fundação atua no incentivo à pesquisa científica, projetos de educação ambiental e na sustentabilidade econômica sustentável de toda a região.

A FEC tem como carro-chefe a gestão das Reservas Particulares de Patrimônio Natural – RPPNs Cristalino e no projeto “Um dia Na Floresta”, que este ano completa 15 anos de atividades com mais de 5 mil estudantes da rede pública e particular de ensino de Alta Floresta e entorno que fazem conexão entre as crianças, a flora e a fauna da Amazônia mato-grossense.

As quatro RPPNs Cristalino, situadas próximas do Parque Estadual Cristalino, surgiram a partir da década de 90 e juntas totalizam mais de 7 mil hectares de floresta amazônica primária em uma região de prioridade extremamente alta para a conservação da Amazônia de Mato Grosso, no Arco do Desmatamento.

Vista do Rio Cristalino afluente do Rio Teles Pires

Em mais de duas décadas de trajetória, a FEC realizou parcerias com inúmeras instituições de pesquisa e universidades brasileiras que realizaram mais de 40 estudos científicos sobre a fauna, flora e clima nas reservas naturais ” A FEC desenvolve, apoia e incentiva a realização de pesquisas científicas nas RPPNs Cristalino, visando aumentar o conhecimento desta região, visando a conservação e preservação da sua biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos que a floresta fornece”, ressalta Lucas Eduardo Araújo Silva, biólogo, Doutor em Zoologia (evolução e biodiversidade) pós em Direito Ambiental e coordenador da FEC.

Lucas Eduardo coletando dados do Monitoramento de Biodiversidade

A presidente da FEC, empresária de ecoturismo e proprietária do Cristalino Lodge, Vitória Da Riva implantou a fundação com intuito de preservar a floresta e demonstrar que é possível promover o desenvolvimento sustentável com a floresta em pé. “Estou feliz em saber que estamos contribuindo com a conservação da Amazônia, mostrando que a floresta tem valor e esse é um trabalho importante da Fundação Cristalino. São muitas pesquisas científicas, educação ambiental para crianças das comunidades. É muito satisfatório ver a missão da FEC sendo cumprida”, comemorou.

Vitória Da Riva – Presidente da FEC

Vitória ressalta o apoio e realização de pesquisas de monitoramento da biodiversidade da região do Cristalino. “Estamos contribuindo para o conhecimento sobre a Amazônia. As parcerias com universidades nacionais e internacionais nas pesquisas proporcionou um descobrimento da imensa biodiversidade desta região. Através da FEC houve a possibilidade de trazer pesquisadores, juntamente com a infraestrutura do Cristalino Lodge que contribui para manter os cientistas no campo em que coletam dados nas RPPNs e no Parque Estadual Cristalino. Sem o apoio da FEC e do lodge não seria possível realizar as pesquisas, mesmo as de socioeconômicas. O conhecimento de fauna, flora, ecótono, clima, hidrologia fornece informações até mesmo para a agricultura.

Um Dia na Floresta

O projeto de educação ambiental “Um Dia na Floresta” realizado pela Fundação Ecológica Cristalino – FEC completa 15 anos de muitas histórias construídas por estudantes, professores e voluntários nas trilhas da Reserva Surucuá, na cidade de Alta Floresta. Em cada atividade realizada, os participantes vivenciam a floresta e compartilham experiências. Já ocorreram 210 oficinas com a participação de 30 escolas do município de Alta Floresta e região até 2022. Ao todo 5.470 estudantes e 90 professores foram levados para conhecer de perto a biodiversidade da Amazônia.

Mariana dos Santos da Silva – Coordenadora de Educação Ambiental

Texto: Josana Salles Abucarma